this is me trying

Opa. Que espaço esquisito é esse aqui? Realmente é um diário virtual? Um suposto formato de consumo da internet vintage? Da época em que a gente precisava logar no computador e ir atrás do conteúdo que a gente queria consumir ao invés de ter conteúdo sendo jogado na nossa cara 24 horas por dia pelo celular? Parece que sim. Parece que realmente é um blog.

Faz inacreditáveis 7 anos desde a última postagem que escrevi aqui. Eu nem sei se sei mais quem que eu era 7 anos atrás. Abri agora o blogger e tinha um rascunho de um post dizendo "Hoje faz um ano e dezesseis dias desde a última postagem [...]. Nem dá pra acreditar que só se passou um ano desde aquilo [...] parece algo que eu gostava quando era adolescente, e não só há um ano, sabe?" e eu ri gostoso de como a passagem do tempo não faz nenhum sentido mais. Entre 2017 e 2018 parecia uma vida, e hoje, 6 anos depois, parece que 2018 foi ontem. Resquícios da Pandemia™, né? 

Ou será que é marcas da idade? Eu não quero dar um update do que aconteceu na minha vida desde que eu costumava escrever aqui, principalmente porque acho idiota, mas acho que não tem como eu começar a explicar o motivo de eu ter querido voltar a escrever sem explicar em que lugar do mundo eu estou e em que lugar de mim esse mundo está. 

Parecia impossível, mas eu me formei em economia. E, ao contrário, da forma mais natural do mundo, eu me casei com o André (o rapaz que rondava os últimos textos aqui como uma coisa confusa virou certeza absoluta). Essas coisas belas aconteceram num mundo esquisito em que a palavra covid-19 existe, mas graças a Deus deixou de ter o peso que teve em 2020. Uma sociedade capitalista esquisita em que home office existe, mas meio que de um jeito sem jeito, né, nem lá nem cá. Um Brasil esquisito em que Bolsonaro tá inelegível por um tempinho aí, mas o bolsonarismo parece que não. Esse inclusive parece muito elegível, elegível pra caralho.

Eu juro que esse texto não vai ser só sobre eleição, por favor, pegue minha mão, não desista, a gente vai chegar lá do outro lado kkkkkkk

Estou escrevendo isso na semana da eleição pra prefeitura e em São Paulo capital um dos concorrentes de terceira via (nem sei direito se essa é a expressão correta nessa situação maluca, mas enfim) é o Pablo Marçal. Acho que desde A Cadeirada™ o Brasil todo já sabe disso, mas não consigo me deixar anestesiar com a ideia de que o estereótipo do coach picareta não só se achou apto ao cargo de prefeito, como inacreditáveis 1/4 dos eleitores dessa cidade parecem que concordam com ele.

E não sei dizer se exatamente por essa candidatura ou não, mas eu li recente um artigo no UOL sobre um processo de mudança na cultura brasileira do catolicismo pra igreja evangélica, mas pra além da igreja e da fé. O texto na verdade se refere a uma mudança de comportamento, de ética social principalmente, mas de estética até, que vem do core do que é hoje a igreja evangélica no Brasil, mas deixou de se ater aos evangélicos. O texto menciona a relação que a gente tem com as redes sociais e a estética de influenciadores, como o caso da Manu Cit, que é evangélica no caso, mas não só ela, chegando no pessoal que fala sobre investimentos, vida fitness, e até o próprio Marçal, que não só não é evangélico, mas já criticou abertamente a igreja evangélica, e ainda assim eu sinto que ele é atualmente o exemplo mais exposto dessa estética, aura, ética, postura nova da sociedade brasileira. 

Eu conversava sobre isso com meu marido (hehehe) antes de dormir, sobre como eu não quero acreditar que 1 em cada 4 paulistanos concordam com o Pablo Marçal e com o que ele representa e querem propagar esse ideal para toda a cidade. A conversa caminhou por tantas reflexões e estamos os dois em um momento de questionar onde estamos, com o que estamos tomando nosso tempo e nossa energia, até desembocar na seguinte frase: "a gente tem que ser a arte que a gente quer ver no mundo".

Não sou uma pessoa especialmente artística. Sou prática demais, sisuda demais. Penso em forma de matemática. Mas meu coração anseia tanto pela arte, tanto tanto. Criei o hábito de tomar café no MASP com alguma frequência apenas para me manter mais perto da arte. Moro muito próximo à Pinacoteca e à Sala São Paulo, dois lugares que sempre me fazem sentir de olhos e coração cheio. Comecei a ler muito cedo porque gostava dos adultos me elogiando por isso e hoje sou extremamente grata pelo hábito da leitura e pela arte que ela me proporciona, desde as piadas de uma comédia romântica até os sentimentos que apenas a vivência militarizada da América Latina causa na gente. Amo show, meu deus, como eu amo ouvir música tão alta que meu coração e de milhares de pessoas estão batendo juntos, e como eu amo ouvir música medianamente alta, com centenas de pessoas sentadas, mas com os corações e mentes também afinados e ritmados juntos. 

Quero que essa arte seja a estética propagada e levada pra frente nesse país. Quero que as pessoas se sintam tocadas por Jorge Amado tanto quanto elas se sentem tocadas por Café com Deus Pai. Quero que elas se emocionem com Liniker na Sala São Paulo tanto quanto choram no show com as antigas do Sorriso Maroto. Ainda que Café com Deus Pai e Sorriso Maroto faça parte da minha vida, quero que o mundo ofereça mais às pessoas. Quero que elas leiam Rupi Kaur, mas que saibam também que existe Cecília Meirelles. Que existe Rock in Rio, mas que também existe Turá. Que existe Colleen Hoover, mas que é ruim, e que a gente poderia estar lendo coisas melhores. Quero que as pessoas saibam que a Sala São Paulo parece chique, mas que tem espetáculo de graça todo fim de semana. Quero que meu pai não diga que não gosta de museu porque não entende nada, quero que ele saiba que não precisa entender, que não tem resposta certa, que a arte não precisa ter uma legenda te explicando o que quer dizer. Quero que as pessoas entendam porque a Laerte e o Djavan ficam putos quando dizem que não entendem o que eles produzem.

Eu não sou uma pessoa especialmente artística. Não sei tocar nenhum instrumento, não sei pintar, canto mal que só a bexiga, tenho minhas dificuldade até com escrever, que eu gosto muito. Mas me lembrei de algum texto da Anna Vitória (não confundir com a dupla Anavitória) dizendo que a gente pode entender muito sobre o mundo escrevendo sobre si mesmo. E chegou até mim a newsletter maravilhosa da Fal, que escreve com tanto, tanto, tanto primor sobre os livros que ela considera indispensáveis. E eu lembrei que esse espaço existe, ainda que provavelmente ninguém vai ler. Reli algumas coisas que eu escrevi quando eu costumava escrever e pensei 'por que não?'. Aqui talvez seja um canal por onde eu posso tentar levar um pouco da arte que eu consumo, e escrever sobre com certeza vai marcar mais em mim dita arte. 

Então essa sou eu, muitos anos depois de ter desistido de escrever no blog, numa era em que ninguém mais lê nada que não legendas de vídeos curtos, do alto dos meus 28 anos, digitando com um dedo enrolado numa aliança de casamento, tendo largado das redes sociais onde eu poderia divulgar esse texto, com a certeza de que ninguém acessava esse lugar nem quando blog era uma coisa, e ainda assim, com muita vontade, muita ânsia, muito elã (pra quem é chique) de tentar fazer pelo menos o meu mundo menos Primo Rico das ideias.

Esse texto já está muito absurdamente comprido, mas acho que é um bom momento (também como marcas do tempo para eu ler depois e me assustar com a passagem dele) para deixar a recomendação de algumas peças artísticas que eu tenho consumido e que eu acho que poderia deixar o mundo mais bonito:

1. O álbum da Lady Gaga cantando jazz, dessa vez sem o Tony Bennet, com as músicas do filme novo do Coringa (o filme é passável, mas o álbum tá ótimo).

2. A série The Bear é absurda de boa. A terceira temporada está um pouco aquém das demais, mas ainda assim, é de encher os olhos de bonita.

3. O texto da Fal. Já falei dele, mas eu preciso reforçar. Gente que lê escreve melhor, mas nem todo mundo que lê escreve assim.

4. O filme Amour. Pelo amor de DEUS, esse filme. Eu nem sei o que escrever sobre esse filme.

5. O inacreditável livro Saboroso Cadáver. Já tem um tempo que eu li, mas é meio engraçado como até hoje, vira e mexe, penso nele de novo. Muito bom ler livro escrito em outra língua que não o inglês e perceber como estamos viciados a ler numa linha narrativa de quem fala em inglês. 

6. O canal do youtube da Vivi, que fala de artes plásticas de uma forma que faz a arte estar aqui, perto de mim. E o canal Great Art Explained, que fala de artes plásticas com o distanciamento suficiente para me dar muita vontade de me aproximar.

Se você chegou até aqui, agradeço, de coração. Sejamos a arte que a gente quer ver no mundo. Até breve.

Rest in peace layout de 2016. Você também era arte.


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