sábado, 30 de abril de 2016

Querida Karla de 16 anos,

ô, sua disgracenta, como assim "não tão querida karla do futuro"??! Vai se ferrar, ô coisa pequena. Sou a melhor versão da gente e você me chamando de "não tão querida".
Se bem que, né, como você saberia que hoje sou muito melhor do que você? Quando você me escreveu sua cabeça não estava no lugar, tudo estava confuso e incerto e complicado... a parte boa é que, mesmo que não melhore muito essa confusão toda aí, pelo menos agora você tem dinheiro pra ir no cinema depois de sair do trabalho se quiser. Não me achei ainda, como você esperava, mas vamo fazeno, uma hora vai, quem sabe.
Logo de cara, vou te dizer que Paramore não é mais sua banda favorita. Assustador, né? Ainda escuto e gosto da nostalgia (cara, o show! você vai amar o show!), mas dá uma escutada em Arctic Monkeys com maior atenção, por favoooor.
E é claro que eu sinto falta de ter 16/17 anos. E, fala sério, você também adora. Só está com medo de completar 18 e ter de sair do útero ensino médio. Aliás, o ensino médio foi incrível em tantos detalhes, é uma parte enorme de quem somos hoje, e eu me divirto pra caramba na faculdade, mas essa sensação de conforto e familiaridade que você sente ao ver as paredes laranjas e o chão azul do Einstein é tão quentinha (estou ficando com a mesma sensação sobre o verde e branco da Eppen - ah é, você não passou na Fuvest, get used to it, nem estuda contábeis e agradeça por isso - também, mas não é a mesma coisa). Outra coisa quentinha é essa sensação de ser super inteligente: vai passar. Na universidade você vai reprovar, criar medo de apresentações em público e tudo isso só porque você conheceu 908438724572890 milhões de pessoas mais inteligentes que a gente. Mas também 38724872 menos inteligentes. Tá tudo bem. Calma.
Aliás, calma também nesse lance do namoro. Tem uma galera namorando à sua volta, ok, e você está curiosa sobre porque passamos tanto tempo em busca disso. A bos notícia: vamos descobrir qual é o hype e entendê-lo perfeitamente. A má notícia: a sensação de não ter um namorado é pior depois que já se teve um. Mas tá tudo bem não ter um namorado também. Dentre todas as coisas que você aprendeu com a único relacionamento que teve até agora, uma das mais importantes é que você merece algo incrível. Espere esse algo incrível, ok? Tá tudo bem.
Repete comigo: tá tudo bem.
Que auto-estima é essa, mana? Eu mal me reconheço nessas tuas palavras. Para de falar mal das feministas e vai estudar sobre. Joga "empoderamento feminino" no Google. Muita coisa ia ser mais fácil se você tivesse descoberto o feminismo um tantinho antes, tipo essa sua auto-estima de merda aí. Você é incrível. Karla. Eu não espero que você acredite, e eu também tenho dificuldade pra acreditar ás vezes, mas é verdade.
Você ainda prefere calor, sim. E o Twitter ainda é sua rede social favorita. Crepúsculo e Hush Hush ainda dão uma nostalgia gostosinha. Você ainda é amiga dessa galera incrível do Einstein, da Marina (que namora seu migo da faculdade graças a euzinha), da Kety. A Larissa teve um bebê. E o Vitinho também.
Mas você fez novos amigos. Até perdeu a virgindade no meio do caminho, com uma pessoa sensacional. Parou de colocar os livros no centro do seu mundo, ironicamente na época em que finalmente você pode pagar por eles (até por uma viagem pra bienal do RJ na verdade), o que é ótimo, porque agora você pode viver tudo aquilo que você sempre quis, participar da própria vida e tals. Mas as séries continuam firmes e fortes, mais firmes e fortes ainda agora com Netflix (eu não sei se você já sabe o que é isso aos 16 anos, mas se não souber, guarda esse nome no coração).
E estuda. Putaquepariu, estuda. Não pra passar no vestibular, mas pra criar o hábito. Porque você ~PRECISA~ estudar na faculdade, ou sim ou sim, e você não sabe. E também você tá deixando o inglês de lado nessa época, por conta do tcc (vai por mim, não é uma perda total de tempo, parece, mas hoje você tem um emprego onde usa excel e sql, então...) e do vestibular, mas você não tem ideia do quão importante ele vai ser em alguns anos no futuro. Eu não sou mais disciplinada que você (na verdade, com álcool no meio do caminho, provavelmente sou menos disciplinada), mas isso é culpa nossa que não desenvolvemos isso há 15 anos atrás quando começamos a estudar.
Ah, eu ainda falo tipo, e bosta, e monguice. A gente achava que perdi alguns vocabulários ridículos, mas só adicionamos mais (boroca que o diga).
Miga (é moda agora chamar todo mundo de miga), a vida é uma grande treta. E tem dias bons, e dias ruins, e as coisas nem sempre saem como a gente quer, e coisas passam, e pessoas vão, e pessoas ficam, e as lágrimas caem, e a barriga dói de dar risada, e você teve a sorte de aprender isso antes dos 20. Sei que não parece, mas crescer é bom pra caralho. E trabalhar realmente cria caráter. E mudar de casa (e de faculdade, e de ambiente, e de ideais) faz um bem danado. E medo é gostosim também. Você já esteve num relacionamento, você estuda economia, você trabalha num banco, você ainda ama os mesmos amigos com uns outros agregadinhos, você não lê mais tanto, porém lê melhor, você gosta de caipirinha e mojito, e de temaki e linguiça alemã, e assistiu how i met your mother inteira. Eu choro todos os dias quase por qualquer razão que seja (presta atenção no primeiro André que você conhecer) e me sinto um cocozinho de pessoa em grande parte do tempo, mas se você pudesse me ver agora, provavelmente ficaria muito empolgada pra chegar até aqui. E só estou te contando tudo isso porque eu sei que é uma informação a qual você não tem acesso. Porque hoje eu só estou onde estou, com as experiências que tive, e com a coragem de viver que eu tenho (porra, e que coragem, viu, tu foi pra Florianópolis com um garoto que seus pais nunca nem viram), porque você não sabe nada do que vem pela frente. Não vou te desejar nada, a não ser o que eu já sei que vem por aí. Mas vou aceitar seus desejos de ser rica e feliz, porque, bem, eles ainda são os mesmos.

Um queijo pra você também  <3
                                          -Karla

** esse texto é uma resposta a uma carta que eu escrevi em 21 de março de 2013. Parece que faz menos tempo, e ao mesmo tempo parece outra vida.
** olha só, eu nem chorei lendo a carta ou escrevendo a resposta
** esse é um texto pessoal demais, meu deus, como eu tenho coragem de publicar um negócio desse na internet?! 
** segue, abaixo, uma lista de verdadeiro ou falso pra essa lista que escrevi exatamente um ano atrás nesse blog
-falso. não dou mais aula na wizard, mas o Les Trupps acabou, ou seja
-meio a meio. sim, ainda estudo economia, mas se tem uma coisa que eu quero fazer nessa vida é me formar, e eu não vou sossegar antes disso
-falso. hm.
-verdadeiro. new girl não é mais a mesma coisa, mas ainda resisto, firme, forte e felizinha toda vez que o nick é fofinho com a jess
-verdadeiro. haha. inclusive, saudades.
-verdadeiro. e olha que nem tem mais o zayn