terça-feira, 9 de junho de 2015

Underneath it all...


Lembro até hoje de uma professora de sociologia dizendo que nos gabamos tanto de sermos racionais, mas no fundo mesmo só sentimos real prazer nas nossas atividades fisiológicas animalescas (comer, beber, foder...). E isso é tão verdade, que grudou no meu cérebro pra sempre.
Ontem eu assisti Relatos Selvagens, um filme argentino em esquetes que conta várias historinhas de pessoas que têm um surto nervoso devido a alguma coisa qualquer boba do dia a dia. Minha primeira impressão era de que todas as situações ali são muito absurdas para serem reais, mas conforme eu fui absorvendo o filme, percebi que não, não é absurdo. Não são situações-limite, não são exceções, não é (só) roteiro de filme.
Seres humanos têm uma mania absurda de querer aprovação alheia. Em todas as situações, em todos os sentidos, em todos os campos da nossa vida. Estamos sempre esperando que os outros nos vejam como melhores do que nós mesmo nos vemos. Como consequência do medo da reprovação, reprimimos todos os nossos maiores desejos (aqueles, os animalescos) até a boca, até eles encherem a gente por dentro e a coisa se tornar insuportável e a gente explode.
Eu sei disso porque me pego fazendo isso várias vezes, vejo meu pai fazer isso, vejo a minha mãe fazer isso. Todos. Os. Dias.
E as situações que nos levam ao limite não são situações-limite. Não são as situações grotescas que nos fazem enlouquecer. São coisas pequenas, são gotas d'água. Mas só é necessária uma gota d'água para transbordar o balde. E o balde transborda porque não deveria nem estar cheio.
A gente devia se permitir sentir o que estamos sentindo. Dar pequenas crises de vez em quando, pra não dar um piripaque qualquer dia desses. Dizer o que estamos sentindo, chorar, gritar, socar uma parede. Qualquer coisa que libere essa selvageria toda que tem dentro de nós aos poucos, porque três ataques de um leão de cada vez é melhor que um ataque de três leões ao mesmo tempo.
Embaixo de todas essas roupas, de todos esses cálculos, de todos esses contratos, de toda essa pose fotos e textões no Facebook e fotos de garrafas de cerveja e comidas congeladas, nós ainda somos os mesmo animais selvagens de dois milhões de anos atrás.

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