domingo, 24 de janeiro de 2016

Sobre metamorfoses ambulantes e as vantagens de não ser invisível

It's okay that she's gone, actually
Acabo de fechar a aba da Netflix onde estive assistindo As Vantagens de Ser Invisível pela primeira vez, apesar de ter lido o livro há uns três ou quatro anos. O livro me fez chorar na época e o filme me fez chorar agora, mas há uma diferença bem grande nesses dois choros.
Porque há três ou quatro anos tudo me empolgava demais, toda a cultura que eu consumia entre 2008 e 2013 me engolia, fazia eu tremer por dentro e por fora, dava nó na barriga, despertava lágrimas numa facilidade absurda.
Entre 2014 e agora (2016 hein, uau, ainda pode desejar feliz ano novo depois de vinte de janeiro?), como diria Charlie no livro e no filme, comecei a participar mais da minha vida. Tenho sentido as coisas na pele e não mais através de páginas de livro ou cenas de filme. Os livros não mais me arrepiam a espinha, por mais que seja um livro bom. Uhg, estou completamente cansada de romance adolescente escrito ou gravado, o que deve ser um choque pra Karla de 15 anos. Essa semana eu abri Anna e o Beijo Francês numa das minhas passagens favoritas e, pela primeira vez, não continuei lendo até o livro acabar. Não sou mais a menina sem filtro e agora consigo ver erro de direção em filme (beijo Reza a Lenda) e problema de atuação em série (beijo Shadowhunters) e, mesmo que parte de mim esteja orgulhosa de tal, é meio frustrante não estar empolgada com a readaptação de um romance adolescente sobrenatural.
(Parênteses rápido pra comentar o quanto desprezei a tag Hush Hush on Netflix que os fãs de Sussurro estavam subindo essa semana, quando, sinceramente, uma série de Hush Hush era tudo o que eu queria em 2011. Não acho que Paramore seja minha banda favorita mais. E tem o fato de que estou viciada no Snapchat também. WHAT'S GOING ON WITH ME?!?! Mas voltemos ao texto)
Talvez frustrante nem seja a palavra, talvez decepcionante e desesperador se encaixem melhor.
Eu não lembro o que eu estava lendo ou assistindo na hora, mas em algum ponto essa semana alguém falou sobre mudar, acho, e crescer, talvez, alguma coisa sobre quem é você de verdade e blablabla, e na hora me veio um soco no estômago em forma do seguinte pensamento: a Karla do passado estaria orgulhosa de você agora?
E eu sinceramente não sei.
Porque é quase como se aquela garota tivesse sumido, eu mal lembro dela. Ler coisas que ela escreveu no diário de 2011 é engraçado no mínimo (e assustador, no máximo), porque aqueles são pensamentos reais dela, pensamentos reais meus, e que não fazem mais nenhum sentido pra mim mesma, a própria autora.
Chorei assistindo As Vantagens de Ser Invisível em 2016 pela razão exatamente contrária que chorei em 2012. Em 2012, minhas emoções mais fortes eram presentes da ficção e ver o Charlie se despedindo dizendo que ia 'tentar participar mais' me quebrou,  porque eu não me sentia vivendo. Agora a mesma frase me quebrou porque eu finalmente entendi o que significa participar da vida, ter minhas próprias emoções com as quais lidar, boas e ruins, e não poder acabar com os problemas fechando o livro. Antes era porque eu queria viver e agora porque estou de fato vivendo.
Só que, ao contrário de Charlie, não me sinto infinita, nem um pouco. Essa crise de identidade e recente procura pela pessoa que era anos atrás só me faz acreditar que não há nada infinito, muito menos a gente. Sou eu agora e serei eu até não ser mais, então serei outra pessoa, que ainda será Karla Damasceno Baltar, mas também não vai me reconhecer. E, talvez, segundo Raul Seixas em Metamorfose Ambulante (tenho ouvido horrores desde o começo dessa crise interna), é preferível que seja assim. Se mudamos, é porque crescemos, e se crescemos, é porque estamos vivendo. Certo?

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