quinta-feira, 12 de março de 2015

Um texto do tamanho do meu amor por teatro

(eu sou a garota cortada ali no canto esquerdo, de chapinha, salto alto e vestido de lantejoula. juro.)
Gostaria muito de conseguir falar com coerência sobre minha experiência favorita da vida, mas a verdade é que já tem algum tempo desde 2011 e a adrenalina (e a tal da quarta parede) deixou meu cérebro num blur que eu não me lembro das coisas acontecidas no palco, só lembro da concentração na coxia e do êxtase no fim. Eu realmente não lembro de algo específico durante a peça em si, eu só me lembro de me sentir totalmente eu mesma.
O que é bastante irônico, considerando que eu não estava sendo eu mesma. Dã.
Depois dessa cena retratada na foto, nós tínhamos um blackout para trocar personagens no palco. A peça toda tinha vários desses e em todo blackout, a plateia estourava em palmas. E, aquilo ali, a sensação de ouvir palmas com adrenalina de palco correndo nas veias, aquilo era o que eu queria pro resto da vida.
É o que eu sempre quis desde a quarta série, quando minha professora me fez representar uma ovelha (sim, uma ovelha) numa peça na escola sobre a Páscoa (não, não era um coelho, era uma ovelha). Eu estava lá, no palco, só crianças mais novas que eu na platéia quando eu disse "não me mete nessa história, eu nem boto ovo" e todo mundo na plateia riu. A sensação era a mesma, apesar de completamente diferente. E eu já sabia, aos dez anos, que eu queria aquela sensação pro resto da vida.
Desde aquele dia, eu nunca mais fui a mesma. Sempre fui louca pra fazer teatro desde então. Lembro que, na época em que eu não precisava me preocupar com muito mais coisas na vida e minha mãe me apoiava porque eu não era legalmente apta pra trabalhar, fui atrás de um grupo de teatro grátis na minha antiga casa e tals, mas que só aceitava adolescentes a partir de dezesseis anos. Lembro também de ter enlouquecido ao ler "conversas, teatro, diversão" num folheto sobre o Alta Voltagem, grupo de jovens oferecido pelo Sesc, mas que também só aceitava jovens a partir de treze anos (eu tinha doze e oito meses na época da inscrição, acabei indo pro grupo de crianças, que não tinha nada a ver com o que eu queria). Então eu acabei deixando isso pra lá até entrar no melhor ano da minha vida, 2011, quando eu entrei pro grupo de teatro que tínhamos na escola onde eu estudava.
E, damn!, como eu sinto falta daquilo.
Cada aula/encontro era melhor que o anterior e aquilo estava sendo definitivamente tudo o que eu achei que seria e eu amava tanto aquilo, com tanta força. Eu amava a turma, eu amava o diretor/professor, eu amava ficar na escola até a hora do teatro começar. E, sei lá, mesmo os jogos de improvisação que a gente fazia lá dentro do pior anfiteatro ever (Einstein, eu te amo, mas aquele anfiteatro...) já me deixava nas nuvens. Os exercícios físicos e de concentração, em que a gente não estava de fato atuando, também eram ótimos.
E então veio a peça em si. Foram seis ou sete meses e de montagem e conexão de grupo, de configuração de figurino e marcação de texto e de cena e um último mês de puro estresse que resultou na melhor e mais curta hora da minha vida.
Eu provavelmente nunca vou conseguir explicar o que eu senti em cima daquele palco.
"eu tô tão animada que posso vomitar" define bem
Era a coisa mais louca. Eu estava preocupada porque aprendi a andar de salto só pra fazer aquilo e descobri que, além de iniciante em andar na ponta dos pés e mais desastrada que São Paulo em fim de chuva de verão, eu teria que me manter impecável oito centímetros mais alta com um tapete (sim, um fodendo tapete!) no meio do palco com o qual não ensaiei. E estava muito preocupada de borrar a maquiagem, porque não daria tempo de corrigir, e estava calor demais naquele camarim. E eu estava preocupada com uma meia calça que rasgou (na foto do post dá pra ver que eu estou sem a meia calça, coisas do teatro). E eu queria ser boa, queria fazer jus ao fato de que estava ali e no papel em que estava, não queria esquecer o texto. E, nossa senhora, ainda foi a melhor sensação da minha vida. Eu sentia meu coração bater forte, estava me sentindo linda, não precisava pensar no que dizer e com um sorriso que não cabia no rosto (hoje penso que, ainda bem que eu precisava sorrir no papel, se fosse algo mais dramático talvez não funcionasse). Nunca estive tão bem na vida quanto durante aquela apresentação.
E então tudo acabou quando, em 2012, comecei a fazer curso técnico depois da aula. Eu tinha acabado de desistir da coisa que eu mais gostava na vida por um curso que eu não gostei e com o qual não quero trabalhar. E então tive altas crises na época do vestibular tentando decidir meu coração entre o mais rentável economicamente e o que provavelmente me faria mais feliz, mas sem dinheiro. Só Deus sabe o quanto eu chorei nessa época.
E, eu ainda tive algumas experiências de um dia em alguns grupos de teatro desde então. Ainda prestei vestibular pra Teatro na Unesp, mas não fui fazer a prova específica/prática (e acho que, se tivesse ido, teria passado), então não adiantou de nada. Ou seja, nunca mais voltei para o que, na realidade, é a minha maior paixão.
E, aos poucos, estou deixando o amor pelo palco e pela performance morrer dentro de mim. Reprimindo-o, porque a menor menção a isso faz meus pais me chamarem de fantasiosa e mandarem eu cair na real. E isso também é conflitante, porque eu sei que eles só querem meu bem, mas pra eles isso não vai me fazer bem. Poucas são as pessoas que de fato sabem o quão bem teatro me fez/faz.
Eu estou sempre insatisfeita, sempre tentando buscar alguma coisa pra cobrir um vazio que sinto aqui dentro.
Enquanto assistia First Position, um documentário sobre crianças e adolescentes que estão participando de uma renomada competição de balé valendo bolsas de estudos e o direito de viver dos seus sonhos, é que realmente entendi porque eu nunca estou satisfeita comigo mesma. Porque era pra eu estar correndo atrás do meu também. No documentário, os bailarinos passam por todo tipo de dificuldade, desde o preconceito para com os meninos que fazem balé até problemas físicos do excesso de treino para ir atrás do que eles realmente querem. São tantas razões pra desistir, é tanta dificuldade, mas mesmo assim, todos seguem, nenhum desiste. Porque pra fazerem desisti-los daquilo que eles mais amam é preciso bem mais que um tornozelo dolorido.
Minha única dificuldade talvez seja a coragem de ser eu mesma ao invés de ser a pessoa que esperam que eu seja. Reli essa semana o hilário Pegando Fogo, da Meg Cabot, sobre uma protagonista bem dessas de "mas o que as pessoas vão pensar", e ela fica tão melhor consigo mesma quando toca o foda-se e fala o que está de fato sentindo. Por que eu não consigo? Do que será que eu tenho tanto medo, afinal? Por que é que ainda não larguei economia, esse curso que com certeza não vai me trazer a razão pela qual comecei ele (that's money, honey), e fui fazer o que eu sempre quis: artes cênicas na Escola de Arte Dramática da USP?! A única coisa me impedindo de fazer isso sou eu mesma e os pensamentos sobre "vai todo mundo me matar". Eu não sei.
Eu só não quero acordar daqui há vinte anos olhando pra minha vida tendo a certeza que deixei escapar a única chance que eu tinha de ser feliz só porque era mais cômodo. Espero, mesmo, que eu tome uma decisão/atitude sobre isso até o fim desse ano, nem que seja só voltar pro teatro e não necessariamente cursar a graduação em artes cênicas. Eu só quero entrar na casa dos vinte com muito mais razões pra curtir do que pra me angustiar.

*Obrigada a você que teve paciência de ler saporra até o final. eu te amo, de verdade, por isso. quando eu comecei a escrever, não imaginei que ia ficar tão grande.
*eu não tenho muitas fotos da peça e essa é a única que dá pra me identificar facilmente em cena. tenho outras dos bastidores, mas não era sobre os bastidores que eu queria falar, apesar de também fazer parte em todo meu amor.

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